quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sid e Nancy

Ele não sabe o que fazer, ela não sabe o que dizer, quatro dias e 4 maços de cigarros baratos saíram dele, e ela só queria mais uma dose de qualquer destilado. O amor havia virado desprezo e qualquer atitude seria descabida, afinal a vodka já estava no sangue dela e ele já estava indo para o terceiro papelote de cocaína: "É que eu sou muito parado, ela me ajuda..." Dizia ao tentar justificar o uso da droga, seus colegas já se acostumaram. Seus amigos sentiam falta da alegria que ele era quando estava sem as drogas...

Já durava 3 anos o sonho de estar junto da garota que ele sempre amou, dos quais apenas 2 meses valeram a pena (era o que diziam os colegas). Passavam por todos os bares, juntos como se não houvesse amanhã e realmente talvez esse amanhã não fosse chegar, pelo menos para eles. O cabelo arrepiado, o casaco de couro, o jeans rasgado, uma garrafa na direita, um cigarro na esquerda e magro como uma modelo, não via os pais a 5 meses... O ultimo familiar que viu foi um tio que havia virado morador de rua, encontrou-se com ele e o tio pediu 5 reais para o almoço, ele respondeu que não havia dinheiro nem para a dose da noite. Dias depois ficou sabendo que o tio havia morrido de fome, não se importou, ele estava com ela. Sempre andava com um sorriso estranho no rosto, um misto de satisfação e malícia. Era feliz com sua vida, com sua amada, a faculdade não fazia falta! Como fazer se nem o almoço lhe fazia?

Ela se lembrava de cada momento, o primeiro oi, o primeiro beijo, primeiro abraço, a primeira vez, a primeira briga... E a parte que ela mais se orgulhava a primeira vez que usaram heroína, ela não era dessas, pelo menos era o que achavam... Com 14 já não era mais virgem, com 13 já fumava escondido dos pais, aos 15 já fumava no mínimo um cigarro de maconha com as amigas. E seu vício por bebidas era exaltado em todas as conversas... "Esse final de semana foram 2 garrafas de vodka, 3 de whisky e 1 de gin..." Dizia com o mais doce dos sorrisos estampado no rosto.

E assim se passaram 3 anos tão rápidos como uma música dos Ramones, tão intensos quanto um show dos Pistols. Seus humores mudavam mais rápido que as cores dos cabelos, uma hora estavam se amando, outrora se batendo. Não havia uma pessoa que duvidasse desse amor, dessa vontade, mas já não os fazia bem. Ela dizia estar cansada de tanta loucura, tanta insanidade. Ele só respondia o que ela nunca quis ouvir...

E assim acabou, como uma fogueira em que jogam areia, o fogo se foi, sumiu. Ele se livrou das drogas, o ultimo saco de cocaína foi queimado junto com suas roupas, voltou pra casa nu! Não queria trazer nada da antiga vida, reencontra sua mãe que lhe dá um abraço que nenhuma outra pessoa no mundo é capaz de dar, pergunta do pai... Um grande silêncio toma conta da sala "Ele foi embora de casa, não aguentou saber que o filho estava entregue a um caminho sem volta, morreu de fome a 6 meses depois que um punk se negou a dar dinheiro para o almoço, eu não pude fazer nada passei os últimos 8 meses dormindo em albergues e hotéis baratos a sua procura! Mas agora você está aqui, e eu te amo..."

Ele fica quieto, um silêncio tão forte que podia ser ouvido por toda a São Paulo, e diz o que sua amada e sua mãe nunca quiseram escutar... "Eu a amei por toda minha vida, amei com todas as minhas forças, do amanhecer até o próximo amanhecer! Eu matei minha vida, eu matei tudo que eu amava, matei meus amigos, meus colegas... Não há mais nada dentro de mim que eu ame, nada mais! AMAR NÃO BASTA!" Havia acabado de descobrir isso, antes apenas dizia por achar que soaria bem.

Ela nunca mais foi vista, mas dizem que ainda habita seus sonhos e pensamentos...


Por: Pedro Pedroso

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